Visão do paciente
        Sistema
    
    Tem uma carga bastante     pejorativa, basta lembrarmo-nos da indústria futebolística ou de uma     máquina imensa onde apenas somos uma peça. Ora, no meio desse sistema     existe um rosto, uma pessoa, um ser com quem vamos lidar e a quem     vamos expor / partilhar os nossos problemas ou limitações de saúde.     Desse alguém que é o médico (não esquecendo todos os outros     profissionais, o médico tem um papel chave na relação com o     paciente) esperamos, no meu entender e em breves pontos, algumas     “coisas”:
    
    
    Explicar o que realmente     afecta o paciente. Sem rodeios, mas com sensibilidade. Se     necessário, não se deixar arrastar por aquilo que o paciente pensa     que tem e tentar persuadi-lo disso.
    
    
    A Medicina é uma ciência     de grande exigência intelectual, mas não pode ficar para trás a     componente humana. Tem que ser valorizada a técnica, mas     aliada ao relacionamento pessoal. Um médico não poder ser apenas um     “fazedor” de 18/19.
    
    
    O médico tem relevo social     não só pelos cuidados que proporciona, mas por ser uma espécie de     confessor, seja através do sigilo profissional, seja também pela     situação de fragilidade de muitos grupos sociais que diariamente     contactam com ele: velhos que vivem sozinhos, crianças que sofrem     maus-tratos, mulheres vítimas de violência doméstica, deficientes.     Nos casos que assim o exijam, uma articulação com outros actores     sociais na denúncia de certas situações é fundamental: psicólogos /     assistentes sociais / professores / polícia(?).
    
    É de grande     responsabilidade, realmente. No entanto, o médico é, como o     paciente, uma peça no sistema. Por isso, este tem o dever de     respeitar aquele. Em conjunto serão mais fortes para ultrapassar os     problemas.
    
     
    
    Doente, utente ou     cliente? Um bocadinho de cada. 
    
    Doente porque é por     esse motivo que recorremos muitas vezes – excepto as de rotina – ao     sistema. 
    
    Utente porque     utilizamos os seus serviços. 
    
    Cliente, porque     pagamos esse mesmo sistema. Curiosamente, a palavra cliente, também     significa: “doente em relação ao médico”
    
     
    
    Algumas coisas ficam por     dizer. Percebendo um pouco da mentalidade vigente, também se     perceberá o sistema.
    
    Sérgio Almeida, Porto
    
    
    
    Visão do     administrativo
    
     
    
        Questão pertinente!
    
    Já em outros locais de     debate em que participei, no âmbito das questões da Saúde, a     interrogação surgiu e as divergências nas respostas também…
    
    Na minha opinião, o     Cidadão que recorre a uma unidade de prestação de cuidados de saúde     (Centros de Saúde, Hospitais, Clínicas, etc.) terá, na origem, de     ser considerado Utente. 
    
    Porquê?
    
    Porque o Cidadão que     recorre à unidade de prestação de cuidados de saúde, antes de mais,     é um utilizador dos serviços disponibilizados por esta, pelo que, a     sua “condição base” será a de Utente.
    
    E as condições de     doente ou cliente, onde ficam? 
    
    Então vejamos! Serão     dois ramos que poderão entroncar, separadamente ou em conjunto, na     supradita “condição base”. Assim, pode ser que o Utente, pela sua     situação clínica, seja também um doente e/ou pela relação contratual     que estabeleceu com o prestador se torne um cliente, no entanto, o     tronco que sustenta estes dois ramos, a condição de origem é a de…     Utente.
    
    Pelo exposto, se há uma     condição que é, na minha opinião, o denominador comum das três     “variáveis”, é então essa que melhor define a relação entre o     utilizador e os prestadores de cuidados de saúde.
    
    Já agora, alguém se     lembra como é oficialmente chamado o cartão, requisitado nos Centros     de Saúde, e que é obrigatório na identificação do Cidadão perante as     Instituições do Sistema Nacional de Saúde?
    
    Pois é! 
    
    CARTÃO DE UTENTE…
    
     
    
    Parabéns ao dinamizador     deste fórum pelos proveitosos debates de ideias que certamente irá     produzir e, também, pela disponibilidade em conceder espaço às     “Visões” dos vários actores que partilham o palco (com diferentes     papéis, claro está) na prestação de Cuidados de Saúde aos Utentes.    
    
     Paulo     Jorge Santos, administrativo, CS S. João, Porto
    
    
    
    Visão do médico
    
 
    
    1. O SNS tem     sido "acusado" de ser apenas um Serviço Nacional da Doença já que os     cidadãos apenas o utilizam quando estão com problemas de saúde, ou     seja, doentes. Carece, assim, de importância a componente de     promoção da saúde, de prevenção da doença. 
    
    2. De qualquer     forma, hoje, os cidadãos estão cada vez mais cientes dos seus     deveres e direitos e, portanto, exercem cada vez mais a cidadania –     a participação nos destinos da sua cidade, seja porque influenciam     directamente a escolha dos dirigentes (direito de voto), seja porque     reclamam quando as coisas lhes parecem mal e assim julgam induzir     correcções, seja ainda porque cada vez mais usufruem dos serviços     que lhes são destinados.
    
    3. No SNS     coexistem, como em qualquer outro serviço, prestadores e     utilizadores. Daí que os cidadãos sejam, todos, potenciais utentes.     Enquanto utentes os cidadãos utilizam os serviços que lhes são     proporcionados mas isso pressupõe alguma passividade por parte dos     serviços.
    
    4. Se, por outro     lado, optarmos por classificar os cidadãos como clientes, pode     entender-se que são os serviços que procuram ou chamam os     utilizadores. Se fazem por isso, têm mais clientes. Mas a verdade é     que os serviços querem é ter menos utilizadores. Os prestadores     sentem que quanto mais utilizadores há mais difícil é a prestação.     Por isso não procuram clientes.
    
    5. Além disso,     sabemos que uma organização com clientes é, supõe-se, uma     organização que visa o lucro. Considerar que os utilizadores são     clientes tem, consequentemente, uma perigosa conotação economicista.
    
    6. Concluo,     assim, que neste sistema, que funciona melhor do que o pintam, os     utilizadores não devem ser meros utentes, nem pretensos clientes.     Tão pouco devem ser doentes, ainda que o sejam. Na minha     perspectiva, os utilizadores são afinal cidadãos e como tal devem     ser tidos e respeitados.
         Rosalvo     Almeida, 61 anos, Neurologista actualmente sem actividade clínica,     Coordenador do Gabinete do Cidadão da ARS Norte